PALMÁCEAS
MELO, B.
SUMÁRIO
-PALMEIRAS PRODUTORAS DE PALMITO AMARGO E NORMAL
-ASPECTOS GERAIS DAS PALMEIRAS
-CARACTERÍSTICAS BOTÂNICA DA PALMEIRA
-CULTURA DE EMBRIÕES EM PALMEIRA
A
guarirobeira [Syagrus oleracea (mart.)
Becc.], família palmae, sub-família cocosoídeae, produtora de palmito com
sabor amargo, tem grande importância econômica, particularmente em regiões
tropicais, notadamente na área de cerrado. Por isso, plantações de genótipos
superiores com rendimento acima da média poderão
contribuir de forma significativa para o incremento da produtividade e uma maior
lucratividade para o produtor de palmito.
O
Brasil é o maior produtor e exportador de palmito em conserva do mundo.
Contudo, a exploração na sua maioria é resultante de uma atividade
extrativista das reservas naturais, ainda existentes (Bovi, 1993).
De acordo com o IBGE (1996), a produção anual de palmito foi de 21.596
toneladas, sendo a maioria produzida em regime extrativista
na floresta amazônica, notadamente no Estado do Pará (83%).
O Brasil participa com 95% da exportação mundial de palmito com
receitas médias anuais de 30 milhões de dólares e com tendência de expansão
constante, além do mercado interno do palmito em conserva ser estimado em pelo
menos seis vezes maior do que o internacional (Brasil - 180 milhões de dólares),
ainda assim o preço para comercialização tem sido idêntico no mercado
interno e externo (Bovi, 1993).
Os principais importadores do Brasil são: França, Espanha, E.U.A.,
Argentina, Itália, Canadá e Uruguai (Cronberg, 1993).
As palmeiras de maior importância no mercado internacional em
conformidade com o que é produzido economicamente (Reinolds, 1982) e pelas
pesquisas realizadas (Brackpool, Branton e Blake, 1986) são: Dendezeiro Elaeis
guineensis Jacq. como fonte de óleo comestível; o coqueiro Cocos nucifera L.
na produção de óleo comestível e outros produtos como coco ralado, água in
natura e a tamareira Phoenix dactylifera L., como fornecedora de alimento tipo
“passa”. Mais recentemente em plantios comerciais de palmito
normal (doce) para o mercado internacional e no Brasil, tem sido
utilizado a pupunheira Bactris gasipaes
H. B. K.; (Bovi, 1993), sendo a Costa Rica o maior produtor e exportador mundial
desta palmeira (Cronberg, 1993). Neste contexto vem aumentando
significativamente os plantios comerciais da guarirobeira [Syagrus oleracea (mart.)
Becc.] no Estado de Goiás, maior produtor do Brasil com 4.000 ha (Nascente e
Peixoto, 1999), e Minas Gerais (Triângulo Mineiro), com 350 ha[1],
visando precipuamente o palmito
amargo.
As
pesquisas a respeito de multiplicação in vitro de espécies de interesse econômico
são cada vez mais promissoras. A guarirobeira é uma dessas
plantas, devido ao seu grande interesse no mercado interno de consumo de
palmito e para gerar excedente exportável.
As dificuldades de multiplicação podem ser minimizadas por intermédio
da propagação in vitro, pois permite a multiplicação rápida, seleção de
material superior precocemente; produção em larga escala e pequeno espaço físico,
por isso, é uma tecnologia adequada para cultura de ciclo longo, assim como a
guarirobeira, visando a produção de mudas para matrizes e plantios comerciais.
A técnica de cultivo in vitro apresenta-se também como uma alternativa
para a guarirobeira [Syagrus oleracea (mart.)
Becc.], visando a criação de um protocolo para intercâmbio de material genético;
resgate de germoplasma e preservação de material ameaçado; redução no período
de germinação; isenção de pragas e doenças; e uniformização nas plântulas
obtidas, inclusive com completo enraizamento in vitro.
Dentre os diversos problemas que são apresentados pelas espécies
economicamente viáveis, são aqueles relacionados com a propagação os de
maior importância. Desta forma, a guarirobeira [Syagrus oleracea (mart.)
Becc.], como uma palmácea e várias outras espécies, possuem inúmeros
entraves para a propagação em larga escala e cultivo comercial. Dentre estes a
existência de praga destruidora do
embrião e endosperma, após a formação fisiológica da semente fruto (Gallo,
1988; Diniz e Sá, 1995); perda rápida do poder germinativo e baixa percentagem
de germinação (Silva et al., 1992); endocarpo duro, impermeável com 3 poros,
somente um funcional, dificultando a penetração d’água e troca gasosa para
o endosperma e embrião (Carvalho e Nakagawa, 1983; Popinigis, 1985; Pinheiro,
1986; Alves e Demattê, 1987; Lorenzi, 1996); alto índice de oxidação no
embrião em cultivo in vitro (Tisserat, 1979; Reinolds, 1982); alta incidência
de fungos no fruto semente e contaminação durante a retirada do embrião
(Carneiro, 1986; Machado, 1988; Gibson, 1957, citado por Sales, 1992); ausência
de perfilhamento natural (Lorenzi, 1996); dificuldade no enraizamento natural in
vitro (Al-Salih et al., 1987), falta de informes a respeito de meio de cultura
adequado com relação à concentração de macro e microelementos, também
reguladores de crescimento na propagação in vitro (Tisserat, 1984;
Grattapaglia e Machado, 1990).
PALMEIRAS PRODUTORAS DE PALMITO AMARGO E NORMAL
Característica
botânica da guarirobeira
A guarirobeira [Syagrus oleracea (mart.) Becc.] é originária do Brasil (Toledo Filho, Rosa e
Neme, 1994; Noblick, 1996), com número
de cromossomos, 2n = 2x = 32 (Lam et. al. 1997), família Palmae (ou Arecaceae),
monocotiledônea (Lorenzi, 1996; Mendonça, 1998). Encontra-se de forma natural
compondo a vegetação das matas em diversos Estados, tais como: Goiás, Minas
Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito
Santo e Paraná (Abreu, 1982; Diniz e Sá, 1995; Lorenzi; 1996).
A
raiz é do tipo fasciculado originando-se na zona rizogênica (base do estipe),
tendo ramificação primária e secundária, cilíndrica e espessada (Alves e
Demattê, 1987). Caule tipo característico de palmeiras denominado de estipe,
cilíndrico ou colunar simples (sem perfilho) com 10-20 m de altura e 20-30 cm
de diâmetro, resistente (duro), medula central (esponjosa), envolvida por um
anel de proteção, fibroso, resistente, anexo ao tecido vascular, constituído
pelo xilema e floema, contudo não possui o câmbio, e por isso não ocorre
aumento no diâmetro à medida que a palmeira vai aumentando em altura.
Portanto, várias palmáceas alcançam o máximo de diâmetro no caule antes de
iniciar o alongamento, não tendo crescimento secundário (Lorenzi, 1996). O
Meristema apical do caule é o responsável pelo crescimento da palmeira em
comprimento e notadamente pela constituição do palmito amargo (caule tenro +
gema apical + primórdios foliares + folhas tenras) que consiste na parte de
maior rentabilidade econômica da guarirobeira em cultivos comerciais.
Conforme Lorenzi (1996), as palmeiras possuem caules simples ou tipo
entoucerados através do perfilhamento, como [Syagrus flexuosa (mart.)
Becc.], sendo, portanto, as brotações subterrâneas, a partir de gemas no
estipe, é que dão origens aos caules múltiplos.
A semente (amêndoa) da guarirobeira está inserida dentro
do fruto, com tegumento amarronzado, envolvendo o endosperma sólido, branco,
oleoso, carnoso, com cavidade interna, contendo o embrião (branco, cilíndrico,
comprimento e diâmetro médios 2,5 e 1,2 mm, respectivamente) uma extremidade
direcionada para o poro funcional de germinação, Figura 1 (foto a). O formato
da semente acompanha a do endocarpo duro do fruto, que é ovóide. Perde o poder
germinativo rapidamente; não suporta o dessecamento; e atualmente é
multiplicada exclusivamente por via sexuada (Lorenzi, 1996).
A destruição do endosperma e embrião em palmeiras (dendezeiro e babaçuzeiro)
é ocasionado pelo coleóptero Pachymerus nucleorom (Fabr., 1792), conhecido
popularmente como bicho do coco, medindo de 12 a 15 mm de comprimento, coloração
cinzenta, élitros estriados, coxas posteriores ovóides e denteadas. Somente
uma larva, raramente duas, conseguem penetrar pelo hilo (poro funcional) . Os
ovos são depositados após a queda do coco (fruto semente) ao solo (Gallo,
1988).
Para Labouriau (1983), a germinação é um fenômeno biológico
que pode ser considerado sob o aspecto botânico como a retomada do crescimento
do embrião. Enquanto sob o ponto
de vista fisiológico, germinar é simplesmente sair do repouso e entrar em
atividade metabólica (Borges e Rena, 1993). No processo de germinação da
guarirobeira, o cotilédone forma para o interior do endosperma, o haustório
(tecido responsável pela nutrição do embrião); para o exterior via poro
germinativo o pecíolo cotiledonar, que
se vai alongar por vários centímetros, Figura 1(foto b); posteriormente, há a
formação do limbo cotiledonar, que possui a gema apical e de onde se origina a
radícula e a gêmula (folhas primárias), sendo a primeira tipo coleóptilo,
chamada de eófila, as demais simples
e posteriormente compostas como em planta jovem e adulta (Tomlinsom, 1960;
Lorenzi, 1996).
A guarirobeira é monóica, com inflorescência tipo panícula ou rácemo
axilar, denominada de espádice formada pela bráctea (tipo espata, protege as
flores masculina e feminina), Figura 1(foto c), ráquis (eixo principal da
inflorescência), ráquila (ramificação que contém as flores, na extremidade,
flor masculina e na base flor feminina), a flor é pequena unissexuada em grande
quantidade (Alves e Demattê, 1987).
O fruto é uma drupa constituído pelo epicarpo (casca verde amarelada);
mesocarpo (carnoso, amarelado, fibroso); endocarpo (espesso, lignificado, celulósico,
muito duro, formato ovóide, impermeável, cor marrom, com 3 poros, sendo
somente um funcional para troca gasosa, entrada d’água e saída do embrião
com diâmetro que oscila de 0,5 a 2,0 milímetros). O fruto tem um
comprimento e diâmetro que oscilam de 3,0 a 7,0 e 2,5 a 4,5cm,
respectivamente, Figura 1(foto b), (Lorenzi, 1996; Passos, 1997).
As características do fruto (cor, tamanho e desprendimento do cacho) em
guarirobeira são os principais indicadores do momento da colheita dos
frutos sementes,
os quais
devem estar
relacionados com a
maturação fisiológica. Pois, conforme Popinigis (1985), no ponto de
maturação fisiológica a semente deverá conter o máximo de matéria seca,
momento este que coincidirá com o máximo vigor e poder de germinação das
sementes. A partir deste instante, o processo passa a ser degradativo, e por
conseguinte as reservas das sementes são consumidas até a completa perda de
vigor e da capacidade de germinação.
Silva et al. (1992) e Diniz e Sá (1995) obtiveram para o fruto semente da guariroba (Syagrus oleracea) um índice de germinação de 50-60%, com início aos 60 dias e término aos 120 dias; enquanto no coquinho (Syagrus flexuosa), o período de germinação oscila de 120 a 180 dias (Koebernick, 1971 e Lorenzi, 1996) e na pupunheira (Bactris gasipaes) tem período e percentagem de germinação de 60 a 120 dias e de 70-80% respectivamente (Jordan, 1970 e Bovi, 1993)
Para Carvalho e Nakagawa (1983), ocorrem pelo menos 3 mecanismos de dormência
de sementes: a) sistema de controle de entrada de água no interior da semente;
b) sistema de controle de desenvolvimento do eixo embrionário; e c) sistema de
controle do equilíbrio entre substâncias promotoras e inibidoras do
crescimento.Por outro lado, Amen citado por Carvalho e Nakagawa (1983),
reconhece apenas 2 mecanismos: a) aquele que ocorre em sementes albuminosas
(rica em proteína) devido ao equilíbrio de hormônios promotores-inibidores; e
b) o que ocorre nas sementes exalbuminosas em função da impermeabilidade do
tegumento a penetração d’água.
Conforme Pinheiro (1986), diversas espécies de palmeiras possuem dormência,
notadamente do tipo obstáculo à penetração d’água para o embrião e
endosperma. Para Diniz e Sá (1995), a guariroba tem dormência, o que dificulta
a germinação.
Neste sentido a propagação da guarirobeira por fruto semente apresenta
sérios obstáculos aos métodos convencionais utilizados devido a semente (amêndoa)
estar coberta com envoltório lignificado, duro, espesso, denominado de
endocarpo, botanicamente, possuindo somente um pequeno orifício de poucos milímetros
de diâmetro por onde ocorre a entrada d’água, trocas gasosas e a saída da
estrutura de germinação.
A dormência de inúmeras sementes pode ser, entre outras, devido à
resistência mecânica presente nas estruturas que recobrem o embrião. Desta
forma, a cultura de embrião pode superar estes tipos de dormência (Hu e
Ferreira, 1998).
Conforme Pinheiro (1986), citando Hodel (1977), a cultura de embrião em
palmeiras com lento processo de germinação, devido a um espesso e duro
endocarpo do fruto, é de suma importância para obtenção de plântulas
enraizadas, em menor espaço de tempo.
O cultivo de embriões in vitro para o coqueiro Cocos nucifera L. é
muito interessante, principalmente no que se refere a intercâmbio de
germoplasma; programas de melhoramento genético; qualidade fitossanitária; e
conservação de material (Ashuburner, Thompson e Burch, 1993).
De Guzman (1969) recomendou que embriões zigóticos de coqueiro Cocos
nucifera L. deveriam ser a forma de intercâmbio de germoplasma dessa palmeira,
em substituição às sementes, pois a semente é recalcitrante, não suporta
armazenamento; há riscos de introdução de pragas e doenças; e tem
menor custo de produção para esta finalidade (Siqueira et al., 1997).
Sittolin e Cunha (1987) utilizaram a técnica de cultura de
embriões in vitro para produzir mudas, visando a implantação de um banco de
germoplasma para possibilitar o acompanhamento e avaliação do potencial da
cultura de macaúba Acrocomia aculeata para produção do óleo. Também, Tabai,
Melo e Crocomo (1990) utilizaram a técnica de cultura de embriões in vitro
para reduzir o tempo de geminação das sementes de macaúba, sendo que as plântulas
ficaram prontas para serem transferidas para a casa de vegetação após 16
semanas da inoculação.
Diversos
tipos de palmeiras podem fornecer palmito de boa qualidade, que se diferenciam
pela precocidade, cor e pelos sabores diferentes. Desta forma, o palmito da
guarirobeira (Syagrus oleracea) caracteriza-se pelo sabor amargo e diferente dos
gêneros Euterpe (Açaízeiro e Juçara) e a pupunheira (Bactris gasipaes), que
é de textura mais firme, sabor adocicado, o que é previsto na classificação
de tipos de sabores no padrão para palmito do Codex pela inclusão dos sabores
doce e amargo (FAO/Who, citado por Ferreira e Paschoalino, 1987).
As principais espécies de palmáceas usadas na obtenção de palmito
normal são: Juçara (Euterpe edulis) comum na mata atlântica, sem perfilho,
estipe ereto, excelente palmito; Açaízeiro (Euterpe oleracea), abundante na
Amazônia, produz diversos perfilhos, estipe ereto, longo e fino, fruto é
apreciado na alimentação humana (Furia, 1993); Pupunheira (Bactris gasipaes)
alógama, perfilhamento abundante, palmito adocicado, estipe ereto, ideal sem
espinho (Barbosa, 1993 Nogueira et
al., 1995). Também a palmeira australiana seafórtia (Archontophoenix
alexandrae) estipe ereto, com anéis e base com dilatação (barriga), sem
perfilho, cultivada notadamente em Santa Catarina (Stegemann e Ramos, 1997).
O período para início de produção de palmito e a periodicidade para
cortes sucessivos em espécies que perfilham é variável. Desta forma para juçara
(Euterpe edulis) e Açaízeiro (Euterpe oleracea), início de 8 a 12 anos e
intervalos de 4 anos; híbrido de
Euterpe, início e períodos de 6 e 3 anos, respectivamente; para Pupunheira (Bactris
gasipaes), primeiro corte de 2 a 3 anos e intervalos de 1 a 2 anos; Palmeira
australiana (Archontophoenix alexandrae), corte com
3-4 anos e Guarirobeira (Syagrus oleracea) sem perfilho, arranquio com
2-4 anos, única com palmito de sabor amargo entre as cultivadas (Gislene
e Bovi, 1991; Bovi, 1993; Diniz e Sá, 1995; Lourenço, 1996; Stegemann e Ramos,
1997).
ALVES, M.R.P.; DEMATTÊ, M.E.S.P. Palmeiras:Características
botânicas e evolução. Campinas: Fundação Cargill, 1987.
129p.
POPINIGIS, F. Fisiologia
da semente. 2.ed. Brasília: AGIPLAN, 1985.
289p.
[1] Comunicação Pessoal- Santos, W.V.-Coord. técnico de Horticultura em Uberlândia-MG-EMATER, em Agosto de 1999.